25ª26ª27ª Etapa VPBTT- Sendim - Bragança - Chaves - Salto, 30, 31/10 e 1/11 de 2010

Sendim-Bragança

Tudo começou algum tempo antes! Como eram as etapas mais distantes para a maioria dos participantes habituais, optou-se por realizar 3 etapas juntas, de modo a permitir uma maior diluição de custos.  As candidaturas para participação foram poucas, e penso mesmo que foram as etapas menos concorridas, apenas 6 comparecemos, eu(Ricky Rock), o Bolacha, o Peregrino, o Ray Bonga em estreia oficial, o Trufox e o Serrano.
Após várias semanas de sol, as previsões para este fim de semana estavam negras, com vários alertas amarelos e laranjas, mas nada demoveu os volteiros, nem mesmo os vários e constantes acidentes encontrados por o caminho até Sendim, que levaram a que um percurso já de si longo, se tornasse penoso.   A noite até estava estrelada, e a ansiedade aumentava a cada minuto por o inicio da etapa, á porta da Junta de Freguesia dois vultos dormiam embrulhados em várias mantas, como 2 porteiros. Ali estavam porque no dia seguinte uma grande feira invadia as ruas de Sendim. Na manhã seguinte e apesar da chuva e de um dia muito feio, e com muito vento, a azáfama era enorme á porta da JF, várias tendas, carrinhas e pessoas cobertas em plásticos percorriam as ruas. A partida foi adiada 30 minutos na esperança de uma aberta, mas apesar de abrandar a chuva insistia em cair. 


 Os 1ºs trilhos apesar de húmidos e peganhentos, eram muito semelhantes aos encontrados na etapa anterior, mas depois veio a surpresa, começaram a aparecer pequenos Oásis, com verdadeiros bosques encantados, com ouriços de castanhas e castanhas por todo o lado, com árvores coloridas de todas as cores a marcarem a paisagem, elas eram Verdes, Amarelas, Vermelhas, e o encantamento era geral. Esquecíamos a chuva, o frio o vento e o planalto deu lugar a vales cavados, esquecidos no tempo, a lugares que pouquíssimos passam e que nos levaram a Quintanilha, onde o 3º canto do “nosso” rectângulo foi conquistado.
Uma dura e longa subida fez-nos sair de Quintanilha, durante cerca de 12 km foi sempre a subir na direcção do Oeste, o vento encontrava-se agora de frente, a lama cada vez mais parecia cola, mas a chuva tinha dado umas tréguas, chegando a aparecer o Sol, que permitia aquecer as mãos e esquecer o frio dos pés.
Lá no alto um pastor apanhava castanhas, o seu cão pisava os ouriços que o faziam parecer caminhar sobre pedras em brasa. Metemos conversa, o homem bastante simpático oferecia as castanhas, e informava que não éramos os únicos malucos num dia de temporal a andar naquele trilho. Um Inglês acabava de passar, sozinho e em caminhada. E mais, para Bragança faltavam 12km. Continuámos, e a subida terminava, ao fundo Bragança. A vista era soberba, tal que o Inglês se encontrava á beira do trilho sentado num calhau a fazer aquilo que me apetecia, mas que o frio não permitia. Sentado deliciava-se com a paisagem e vivia o momento único que só quem por lá anda percebe. A descida foi alucinante, a adrenalina subia a cada metro, e a velocidade também. Antes de Bragança ainda alcançámos Gimonde, onde ultrapassámos o Rio de águas cristalinas por uma ponte medieval, que envolvia todo aquele vale numa magia especial.
E chegávamos a Bragança. A cidade Portuguesa mais distante que já alguma vez fui. 



O alojamento foi nos Bombeiros de Bragança, onde fomos muito bem recebidos, e instalados em quartos quadrupolos, com direito a cama e mantas. No bar a lareira deliciava-me e passei um bocado frente à mesma, apreciando o temporal que percorria a cidade lá fora.  Tivemos direito a uma visita à cidade de dentro do enlatado, pois o tempo não permitia mais. E ainda visitámos a feira de caça/pesca e castanha locais, onde passamos um belo bocado.



Bragança-Chaves

Esta era a etapa “Rainha” do conjunto das três. O tempo não era o esperado para este dia quando da partida de Lisboa, pois o alerta laranja havia sido alargado e o mau tempo continuava. O vento era ainda mais forte e gélido que no dia anterior, e a chuva teimava em cair. Poucos metros andámos e já nos encontrávamos nos trilhos. Aqui os bosques e as castanhas invadiam-nos completamente o olhar. Era completamente impossível evitar os ouriços, e o receio de lhes passar por cima com medo de algum furo passava, quando literalmente éramos obrigados a andar em cima deles. Poucos kilometros percorridos, e a vontade de uma bebida quente já se fazia sentir. Fomos parar numa aldeia já perdida nos montes, onde fomos encontrar um curioso café, gerido por o Presidente da Junta de Freguesia, que não era possuidor das duas mãos, e que á apenas uma semana atrás havia contado a sua historia numa reportagem da SIC, e que foi prontamente reconhecido por o Peregrino. O Mundo consegue ser mesmo muito pequeno! 


Após esta paragem a imensidão da envolvência ainda cresceu mais, para onde quer que olhássemos éramos envolvidos por montes enormes, e vales que nos deixavam extasiados. Passámos em muitos locais que nos fizeram recuar no tempo e recordar as paisagens paradisíacas Austríacas que víamos em algumas séries da nossa infância. Os rios transportavam água completamente cristalina, as pontes pareciam ali estar desde a criação do Mundo, as subidas eram enormes e as descidas alucinantes. A vontade de absorver aquilo tudo que nos fazia sentir tão pequenos e tão serenos com o Mundo era enorme, mas o tempo não ajudava. Os pés começavam a ressentir-se e tudo piorou quando fomos obrigados a ultrapassar um pequeno riacho. A tentativa de o passar sem molhar os pés, fez-me escorregar e dar um jeito no joelho, que se veio a verificar penoso durante alguns km. Após uma enorme descida por um vale maravilhoso, que terminava numa perdida praia fluvial, veio uma enorme picada, com uma inclinação brutal e que me fez ver que não poderia continuar. As dores no joelho eram enormes, e o pensamento só estava em deixar por concluir metade da etapa, e tentar não comprometer a etapa do dia seguinte.
Após encontrar o JMB e o Serrano a aquecerem-se numa tasca perdida em Edral, á volta de uma Salamandra instalada no meio do café, não havia mais volta a dar, Fiquei-me por ali, e que bem que soube. O Serrano ainda se meteu a caminho a tentar encontrar o Trufox e Bonga que  haviam continuado, e o Peregrino que já estava mais para a frente voltou atrás e veio fazer-nos companhia para o quente. Apesar de alguma resmunguice inicial, nunca mais se vai esquecer daquela calorenta e animada tarde, passada numa tasca algures, enquanto lá fora o temporal continuava…


A chegada a Chaves no enlatado foi já de noite. A cidade estava em festa, notava-se menos frio que em Bragança e os Bombeiros eram logo ali. As instalações não foram como em Bragança, mas lá arranjámos um espacinho onde couberam os colchões todos ao molho, excepto o Serrano que lá arranjo um cantinho só para ele, onde a tortura chinesa entrou em acção e lhe fritou a mioleira toda, ao ponto de se escutarem frases como “Sou um Cão”….

Chaves-Salto



Este era o dia esperado para ser algo mais soft, onde a previsão de chegada tinha sido muito optimista, devido á pouca distância, pois ainda teríamos toda aquela distância para o regresso no enlatado. 



Ao inicio tudo parecia semelhante ao dia anterior, apenas o tempo estava significativamente melhor, apesar de um ou outro borrifo, o sol também marcava presença, o vento ainda lá estava mas mais lateral e todos estavam animados, a saída de Chaves foi feita por um trilho muito bom, que nos levava na direcção das montanhas ladeando uma barragem. Mal sabíamos o que nos esperava. Conforme íamos subindo, verificávamos que Chaves se encontra no centro de uma enorme cratera, como se uma enorme boca de um vulcão se tratasse!   


Depois, depois tudo se modificou, os Oásis do dia anterior deram lugar a um Inferno de calhaus e rochas, em subidas enormes, com um vento lateral que teimava em nos tentar empurrar da Montanha abaixo, o desafio era cada vez maior, e tentar dominar a bicicleta naquelas subidas era algo verdadeiramente motivante. 

A meio desse inferno uma visão, um tipo surge literalmente do nada, acompanhado do seu cão e corria por aquela montanha acima como nós não o conseguíamos fazer na bicicleta. A expectativa era que após aquela montanha as coisas acalmassem, mas foi só expectativa, do outro lado a visão era assombrosa, eram montes e mais montes, aldeias de pedra que pareciam escavadas no deserto de rochas que as envolviam, e a conquista dos vários cabeços continuava, e assim foi até ao final, ainda com direito a passagem numa Barragem situada a mais de 1000mt de altura que nos proporcionou visões de rara beleza. Completamente assombroso, uma das etapas mais duras, mas uma das mais motivantes e saborosas de conquistar. 



Foram 3 dias espectaculares, com o cheiro da terra, do lume, do interior a marcar a sua presença e a deixar-nos todos maravilhados com a diversidade e beleza presente em qualquer lado que se olha-se.

Bem Hajem a todos, em especial aos meus pais que nos serviram de apoio.

2 comentários:

Ricardo disse...

Mais uma resmunguice, quando é que é a próxima vida de cão??

Anônimo disse...

Es uma verdadeira menina

Eu fazia isso tudo de triciclo

Edu